Entre a Enxada e a Fé: Como a Roça Sustenta a Vida e a Cultura em São Tomé

Em São Tomé, a roça é sustento, cultura e fé. Conheça como o trabalho no campo preserva saberes, espiritualidade e resistência quilombola.

TERRITÓRIO E IDENTIDADE QUILOMBOLA

5/24/20252 min read

Entre a Enxada e a Fé: Como a Roça Sustenta a Vida e a Cultura em São Tomé

“A roça não é só o que se planta — é também o que se carrega no peito.”

Na Comunidade Quilombola de São Tomé, a vida na roça não é apenas trabalho. É tradição, espiritualidade, convivência e resistência.
É o lugar onde a cultura se cultiva junto com o milho, a mandioca e o feijão. Onde cada semente plantada carrega o nome de quem ensinou, e cada colheita é feita com reza, com canto e com memória.

Neste artigo, vamos conhecer o valor profundo da roça para a vida quilombola: não só como sustento, mas como herança viva.

Trabalhar a terra com o corpo e o espírito

Quem vive da roça em São Tomé sabe que o trabalho começa muito antes da enxada tocar o chão.
Começa com o respeito à terra, com o pedido de licença aos encantados, com a oração para a chuva vir no tempo certo.
Cada dia de plantio ou colheita é também um dia de fé.

A espiritualidade está presente:

  • No sinal da cruz feito ao amanhecer

  • Na promessa feita em troca de uma boa safra

  • Na vela acesa aos pés do santo protetor da lavoura

  • Nos cantos que embalam o corpo durante o trabalho

Sementes, luas, rezas e saberes

Os saberes da roça não vêm de manual, mas da observação e da escuta.
São conhecimentos passados de geração em geração, com base na vivência, na fé e no tempo da natureza.

Em São Tomé, é comum ouvir:

  • “Feijão se planta na lua crescente.”

  • “Pra mandioca boa, tem que rezar antes de abrir a cova.”

  • “Colheita boa começa com bênção de vó.”

Esses ensinamentos não são apenas técnicas agrícolas — são formas de viver em harmonia com o tempo, com o sagrado e com a coletividade.

Como a cultura afro-brasileira vive no campo

A roça também é palco de manifestações culturais e espirituais. Durante a lida, nas festas da colheita ou nas promessas pagas ao padroeiro, o povo de São Tomé se expressa:

  • Com música (pandeiros, tambores, cantorias)

  • Com dança (reisado, samba de roda)

  • Com comida tradicional (beiju, canjica, mungunzá)

  • Com fé popular (terços, novenas, rezas e promessas)

“A terra é onde o corpo trabalha e a alma canta.”

A roça como espaço de educação e resistência

Enquanto o mundo moderno valoriza o que é urbano, a roça quilombola continua sendo escola, igreja e berço de identidade.

Na roça, aprende-se:

  • A respeitar os ciclos naturais

  • A trabalhar em mutirão e partilhar o que se tem

  • A escutar os mais velhos

  • A valorizar o que é simples, mas essencial

Viver da roça é resistir.
É dizer que o conhecimento do campo tem valor.
É provar que a terra é lugar de dignidade e cultura — não de atraso.

📢 Você aprendeu algo na roça que leva pra vida toda?

💬 Compartilhe com a gente. Sua história fortalece essa tradição que resiste entre a fé e a enxada.