
Representar com Verdade: A Imprensa e o Projeto Político de Mulheres Negras
A forma como a mídia retrata as mulheres negras na política revela muito sobre os desafios da representatividade no Brasil. Uma nova pesquisa nacional quer entender essa cobertura e lançar um guia para jornalistas. Saiba por que escutar e representar com verdade o projeto político de mulheres negras é urgente para a democracia.
6/19/20254 min read
Representar com Verdade: A Imprensa e o Projeto Político de Mulheres Negras
A história do Brasil é marcada pela exclusão sistemática de mulheres negras dos espaços de poder e decisão. Mesmo sendo maioria entre as mulheres brasileiras, elas continuam sub-representadas na política, nos cargos de liderança e, especialmente, na mídia. Quando aparecem, suas vozes são muitas vezes distorcidas, silenciadas ou reduzidas a estereótipos.
Apesar disso, as mulheres negras seguem protagonizando mudanças profundas em seus territórios. Estão nas comunidades quilombolas, nas favelas, nas universidades, nas igrejas e nas câmaras municipais, construindo um projeto político enraizado na coletividade, na justiça social e na ancestralidade.
Nesse cenário, a pesquisa lançada pelo movimento Mulheres Negras Decidem e pela Revista Afirmativa se torna essencial. Ela investiga como o jornalismo brasileiro tem retratado esse projeto político e lança uma pergunta urgente: a mídia está preparada para cobrir com responsabilidade a ascensão das mulheres negras no poder?
O que é a pesquisa "Mensageiras Confiáveis"?
A pesquisa "Experiência na cobertura jornalística do projeto político de mulheres negras" busca reunir, de forma sigilosa e anônima, os relatos de jornalistas que já cobriram candidaturas, mandatos ou pautas lideradas por mulheres negras. A partir desses relatos, será construída a cartilha "Mensageiras Confiáveis", um guia prático para jornalistas, veículos e assessorias de imprensa.
A proposta é contribuir com uma comunicação mais justa, plural e antirracista. A pesquisa está disponível até o dia 30 de junho de 2025, e é aberta a jornalistas de todo o país, especialmente os que atuam em política.
Por que isso importa?
1. Sub-representação histórica
Mulheres negras representam mais de 27% da população brasileira, mas ocupam menos de 2% dos cargos no Congresso Nacional. Esse abismo é ainda maior em cargos executivos, como prefeituras e governos estaduais.
2. Cobertura enviesada ou superficial
Mesmo quando há candidaturas negras femininas, a mídia tradicional muitas vezes cobre essas campanhas com superficialidade, reforçando estereótipos ou ignorando pautas centrais como racismo institucional, cuidado comunitário e justiça social.
3. Construção de uma nova narrativa
A presença de mulheres negras na política não se resume a ocupar cadeiras. É um projeto coletivo, que propõe uma nova forma de fazer política, e isso precisa ser compreendido e respeitado pela mídia.
O papel da imprensa: entre a visibilidade e a responsabilidade
A imprensa tem o poder de legitimar ou silenciar. Quando dá espaço, pode contribuir para a construção de referências positivas e inspiradoras. Quando ignora ou distorce, reforça o apagamento histórico que já marca a trajetória de tantas mulheres negras.
O jornalismo precisa abandonar a neutralidade falsa e se comprometer com a justiça. Isso significa escutar com atenção, estudar os contextos, evitar generalizações e garantir que a pluralidade da experiência negra feminina seja retratada com dignidade.
E nas comunidades?
Nas regiões do interior, como em São Tomé e outras comunidades quilombolas, muitas mulheres negras já atuam como líderes políticas, mesmo sem mandato. São elas que articulam mutirões, lideram grupos culturais, organizam eventos religiosos e defendem os direitos da comunidade.
Essas lideranças raramente são cobertas pela mídia regional, e quando são, muitas vezes não têm suas vozes ou perspectivas respeitadas. Essa pesquisa é um chamado para que também o jornalismo local se transforme
O que é a cartilha "Mensageiras Confiáveis"?
A cartilha que será lançada após a pesquisa vai conter:
Dicas para evitar abordagens racistas e estereotipadas;
Orientações para cobrir campanhas, mandatos e pautas com sensibilidade e contexto;
Exemplos de boas e más práticas na cobertura jornalística;
Ferramentas de escuta e valorização das fontes negras femininas.
O objetivo é construir uma imprensa mais inclusiva, que reconheça as mulheres negras como fontes legítimas de conhecimento e poder.
Conclusão
A forma como contamos histórias importa. E quando se trata do projeto político de mulheres negras, contar com respeito, profundidade e verdade é uma forma de reparação histórica e de compromisso com o futuro.
O jornalismo brasileiro precisa se atualizar, não apenas em tecnologia, mas em sensibilidade, ética e responsabilidade social. As mulheres negras estão criando um novo jeito de fazer política, e cabe à mídia aprender a narrar esse processo com a dignidade que ele merece.
Se você é jornalista ou conhece alguém da imprensa, incentive a participação na pesquisa. E se você valoriza uma mídia comprometida com a verdade e a diversidade, compartilhe este artigo. A transformação também passa por quem escolhe o que merece ser contado.
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