Antirracismo é para todos? Ensinar também é resistir
Descubra por que o antirracismo é para todos e como ensinar sobre racismo fortalece a resistência e transforma realidades no Brasil.
TERRITÓRIO E IDENTIDADE QUILOMBOLA
Antirracismo é para todos? Ensinar também é resistir
Vivemos em um país onde muitas pessoas ainda têm vergonha de dizer que são negras. Onde a cor da pele determina o salário, o acesso à educação, o tratamento na rua e até mesmo as chances de viver. Onde a cultura negra, a religião de matriz africana e o cabelo crespo são constantemente alvo de zombaria ou apagamento.
É nesse cenário que nasce a necessidade do antirracismo. E com ele, uma pergunta incômoda, mas essencial: o antirracismo é um movimento feito para brancos aprenderem, ou é uma tarefa que também nos diz respeito como povo negro?
Precisamos mesmo ensinar o antirracismo?
A crítica: “Não somos educadores de brancos”
Há quem defenda que o povo negro não deve mais explicar, repetir, argumentar ou ensinar nada a ninguém. O racismo é evidente, documentado, comprovado. E se alguém ainda não entendeu, é porque escolheu não entender. Esse pensamento carrega uma verdade: é cansativo demais ter que sempre educar quem nos oprime. O povo negro tem o direito de existir em paz, e não apenas como instrumento pedagógico.
A realidade: O Brasil ainda não aprendeu
Mas o outro lado da moeda também precisa ser olhado com atenção. O Brasil ainda é um país onde a maioria da população se declara parda por medo de dizer que é negra. Onde se alisa o cabelo da criança porque “fica melhor”. Onde se muda o nome do santo, a batida do tambor e até o tom da voz para se “encaixar”. Se aqui as pessoas negras ainda precisam ser ensinadas a ter orgulho de si, como não ensinar também o que é antirracismo?
Chimamanda e a diferença entre Brasil e Nigéria
Orgulho herdado ou aprendido?
A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie diz que não precisa ensinar sua filha a ter orgulho de ser negra, porque, na Nigéria, ser negro é o padrão. A população é negra, os heróis são negros, as histórias são negras, o poder é negro. Mas no Brasil, esse orgulho não nasce com a mesma força.
Aqui, precisamos ensinar a ser negro com amor, com consciência, com história. Precisamos ensinar que o cabelo crespo é belo, que a pele escura é potente, que o nome africano é digno. E se é preciso ensinar o orgulho, então também é preciso ensinar o antirracismo.
Antirracismo é para todos: inclusive para quem não acha que precisa
Para brancos que ainda não ouviram e para negros que ainda têm medo
O antirracismo não é um favor. É uma ferramenta de cura coletiva. Ele é importante para pessoas brancas, sim, para que elas reconheçam seus privilégios, revejam seus comportamentos e entendam seu papel na mudança. Mas ele também é importante para o povo negro, para que volte a olhar no espelho com dignidade, para que reconheça sua história, para que reaja às violências cotidianas com consciência política e cultural.
Não se trata de explicar para convencer, mas de falar para transformar
Falar de antirracismo não é sobre convencer quem não quer ouvir. É sobre manter viva uma narrativa que nos reconstrua como povo. É sobre plantar sementes que talvez não germinem agora, mas que um dia serão árvores de resistência e liberdade.
Conclusão: Ensinar é cansativo, mas o silêncio custa mais caro
O silêncio nunca foi neutro. Ele sempre serviu à manutenção do poder. Quando deixamos de falar, o sistema respira aliviado. Por isso, falar de antirracismo, ainda que desgastante, ainda que difícil, ainda que repetitivo, ainda é necessário.
Se temos que ensinar a nossos filhos que ser negro é motivo de orgulho, então também temos que ensinar a sociedade que racismo não é opinião: é uma estrutura que mata, exclui e adoece.
Antirracismo não é só para brancos. É um projeto de reeducação coletiva. É uma forma de cura. É um ato de amor com o futuro.
Se você já teve que se explicar por ser negro, esse texto é para você. Se você nunca parou para pensar nisso, também é. Leia, reflita, compartilhe. A mudança começa com a escuta.