Educação infantil e meio ambiente: cuidar começa na infância

Veja como a educação ambiental na infância une saberes quilombolas e natureza para formar crianças conscientes e conectadas à cultura e ao meio ambiente.

6/27/20254 min read

Educação infantil e meio ambiente: cuidar começa na infância

A relação entre criança e natureza é ancestral. Antes de saber ler e escrever, a criança já sente o cheiro da terra molhada, observa os ciclos da lua, escuta os cantos dos pássaros e aprende, com os mais velhos, a plantar, colher e respeitar o tempo da vida. Por isso, trabalhar o meio ambiente na educação infantil é muito mais do que ensinar sobre reciclagem. É formar vínculos, despertar sensibilidade e cultivar pertencimento.

Em comunidades quilombolas, esse cuidado com a natureza ganha ainda mais significado. O território é fonte de alimento, de fé, de cura e de memória. Ensinar as crianças a cuidar do meio ambiente é também ensinar a cuidar de si, do outro e da história coletiva.

O que significa educação ambiental na infância?

Educação ambiental, especialmente na infância, não precisa ser teórica ou formal. Ela acontece no quintal, na sombra do umbuzeiro, ao acompanhar o avô na roça ou ao ouvir uma história sobre como a chuva chega quando as plantas chamam.

Essa educação deve ser:

• Sensível: conectada aos sentidos da criança
• Afetiva: baseada em relações de cuidado e respeito
• Territorializada: ligada ao ambiente onde a criança vive
• Participativa: com escuta ativa e valorização da curiosidade

Experiências práticas para o dia a dia na escola quilombola

1. Hortas e jardins comunitários

Envolver as crianças no plantio e cuidado de hortas escolares é uma forma concreta de ensinar sobre ciclos da natureza, alimentação saudável, respeito ao tempo e trabalho coletivo. As hortas também podem conter plantas medicinais da tradição quilombola, valorizando os saberes locais.

2. Brincadeiras com elementos naturais

Areia, folhas, sementes, galhos, terra molhada. Esses elementos podem se tornar brinquedos criativos e educativos. Além de estimular o desenvolvimento motor e sensorial, esse tipo de atividade reconecta a criança ao ambiente com liberdade e imaginação.

3. Contação de histórias e cantigas da natureza

Histórias sobre animais, rios, árvores e fenômenos naturais ajudam a construir vínculos afetivos com o meio ambiente. As contações podem incluir mitos africanos e narrativas da própria comunidade. A oralidade é uma aliada forte da consciência ecológica.

4. Roda do tempo e observação do clima

Iniciar o dia perguntando “Como está o céu hoje?” ou “A terra está seca ou molhada?” incentiva a observação, o diálogo e o entendimento sobre os ciclos do tempo e a importância da água, do sol e da terra.

5. Passeios pelo território

Visitar nascentes, árvores antigas, roças e locais simbólicos da comunidade ajuda a criança a entender o valor cultural e ecológico do lugar onde vive. Esses passeios podem ser acompanhados de relatos dos mais velhos, fortalecendo a educação intergeracional.

A cultura quilombola como fonte de educação ambiental

Nas comunidades quilombolas, cuidar do meio ambiente não é uma disciplina, é um modo de viver. Parteiras que ensinam a usar folhas como remédio, mães que cuidam da cisterna, lavradores que falam com a terra, crianças que brincam com barro. Tudo isso já é educação ambiental.

Trazer essa vivência para dentro da escola é uma forma de afirmar que a cultura local é ciência, é saber legítimo, é pedagogia viva.

Conclusão

Cuidar do meio ambiente começa na infância, mas também começa com o reconhecimento da terra como mãe, como fonte e como casa. Em um mundo que vive crises ecológicas graves, ensinar as crianças a respeitar e proteger a natureza é uma urgência e uma chance de reencantar o mundo a partir dos pequenos gestos.

Na educação infantil quilombola, meio ambiente não é conteúdo: é presença. É chão, é cheiro, é história. É onde tudo começa.

Como sua escola trabalha o meio ambiente com as crianças?
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