Educação infantil quilombola: aprender com raízes e saberes

Saiba por que a educação infantil quilombola valoriza saberes, brincadeiras e identidade, promovendo inclusão e respeito desde os primeiros anos.

EDUCAÇÃO E MUSEU VIRTUAL

6/25/20254 min read

Educação infantil quilombola: aprender com raízes e saberes

A infância quilombola é um território fértil de imaginação, oralidade, espiritualidade e resistência. Antes mesmo de entrar na escola, as crianças já aprendem com a terra, com os mais velhos, com os cantos e com os gestos cotidianos. Mas e quando a escola chega? Ela valoriza ou apaga essa bagagem?

Falar sobre a educação infantil nas comunidades quilombolas é pensar em como construir um processo de ensino-aprendizagem que respeite o tempo da criança, a cultura da comunidade e os saberes ancestrais. É defender que a escola precisa se adaptar à comunidade e não o contrário.

A infância quilombola como espaço de saber

Nas comunidades quilombolas, as crianças crescem em contato com múltiplas formas de conhecimento:

• Aprendem a plantar, colher, cozinhar e cuidar da natureza
• Escutam histórias e chulas contadas pelos avós
• Participam de festas como o Reisado, o Samba de Roda, as novenas
• Ajudam nas tarefas da casa e aprendem com o exemplo
• Criam brinquedos com materiais da roça e da caatinga
• Observam a espiritualidade nos gestos simples do cotidiano

Tudo isso é educação, ainda que não esteja nos livros didáticos.

O que a escola deve considerar na educação infantil quilombola?

1. Tempo e ritmo da criança

Nas comunidades tradicionais, o tempo não é acelerado como na cidade. O aprendizado acontece no ritmo da vida, no contato com os outros, na repetição dos gestos. A escola precisa respeitar isso e não impor uma lógica urbana e produtivista.

2. Valorização da oralidade

Antes de escrever no papel, a criança quilombola escreve no corpo e na fala. A oralidade é um pilar do saber ancestral. Cantar, contar histórias, repetir provérbios, inventar cantigas, tudo isso deve ser prática pedagógica cotidiana.

3. Brinquedos e brincadeiras do território

Em vez de impor brinquedos industrializados, a escola pode recuperar os brinquedos do quintal: bonecos de pano, animais de barro, carrinhos de madeira, cantigas de roda, jogos de corda e desafios orais. Brincar é aprender com afeto e memória.

4. Espiritualidade como parte da formação

A fé, as rezas e as bênçãos fazem parte do cotidiano das crianças quilombolas. A educação infantil precisa acolher essa espiritualidade sem preconceito, entendendo que ela ensina valores como respeito, comunidade e cuidado.

O que é uma educação infantil com identidade quilombola?

É uma educação que:

• Usa palavras da comunidade no processo de alfabetização
• Trabalha com a cultura local como fonte de conhecimento
• Envolve as famílias e os mais velhos no processo educativo
• Respeita a língua, o sotaque e o jeito de ser da comunidade
• Reforça o orgulho da identidade negra desde pequeno

Exemplos e experiências inspiradoras

Projeto “Brincando no Quilombo” (MA): resgata brincadeiras, histórias e cantigas da comunidade com apoio de educadores e griôs.
Maternal Quilombola em Oriximiná (PA): onde o espaço da sala de aula é o próprio quintal da casa, com atividades baseadas no cotidiano da roça.
Educação Infantil em São Tomé (BA): crianças aprendem com as Ciganinhas, participam das novenas e reconhecem os mais velhos como mestres da vida.

Conclusão

A educação infantil nas comunidades quilombolas não deve ser uma cópia da escola tradicional. Deve ser um espaço de acolhimento, memória, brincadeira e afirmação da identidade. Quando uma criança quilombola se vê refletida nas histórias, nas atividades e no afeto da professora, ela entende que sua vida é digna de ser contada, valorizada e celebrada.

Educar é também reafirmar o pertencimento. E toda criança quilombola tem o direito de crescer sabendo que é herdeira de uma história linda, forte e ancestral.

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