Escola afrocentrada: o modelo Maria Felipa inspira o Brasil

Entenda o que é uma escola afrocentrada e por que o modelo da Maria Felipa inspira educadores e comunidades negras em todo o Brasil.

EDUCAÇÃO E MUSEU VIRTUAL

6/22/20254 min read

Escola afrocentrada: o modelo Maria Felipa inspira o Brasil

A educação brasileira há muito tempo gira em torno de uma estrutura que privilegia o olhar europeu, invisibiliza as populações negras e ensina crianças negras a se verem como secundárias na história que vivem. Em resposta a esse cenário, surgem projetos educacionais que colocam o povo negro no centro do currículo, do afeto e da construção do saber. Um dos maiores exemplos é a Escola Afro-Brasileira Maria Felipa, localizada em Salvador (BA).

Este artigo explica o que é uma escola afrocentrada, por que ela tem ganhado força no Brasil e como esse modelo tem potencial para transformar não só a educação negra, mas toda a sociedade.

O que é uma escola afrocentrada?

Conceito

Uma escola afrocentrada é aquela que adota uma perspectiva afroreferenciada em seu currículo, sua metodologia e sua organização. Isso significa que ela reconhece a cultura, os saberes, a espiritualidade, a ancestralidade e a história afro-brasileira como fundamentos centrais da educação, e não como conteúdos opcionais ou eventos em datas comemorativas.

Diferença entre "incluir" e "centralizar"

Escolas comuns costumam falar sobre a cultura negra em datas como 20 de novembro ou 13 de maio. A escola afrocentrada não fala sobre, ela fala a partir de. Em vez de adaptar um currículo já pronto, ela constrói o conhecimento com base em referências negras literárias, filosóficas, científicas, espirituais, culturais e comunitárias.

Como funciona a Escola Maria Felipa?

Um projeto pioneiro na Bahia

Fundada em Salvador, a Escola Afro-Brasileira Maria Felipa tem se destacado como uma das experiências educacionais mais importantes do país. Voltada para crianças da Educação Infantil e Ensino Fundamental, ela tem como base uma pedagogia que integra:

  • Saberes ancestrais africanos e afro-brasileiros

  • Afeto e espiritualidade como parte do processo pedagógico

  • Estética, culinária e linguagem negra

  • Construção coletiva com famílias e comunidade

Nome com significado

O nome da escola homenageia Maria Felipa, mulher negra, marisqueira e liderança da Ilha de Itaparica que, em 1823, liderou um grupo de mulheres contra tropas portuguesas, um símbolo da força, autonomia e resistência da mulher preta.

Metodologia viva

As crianças aprendem a ler com palavras que fazem parte do seu universo. Cantam cantigas de matriz africana. Fazem atividades com os mais velhos da comunidade. Refletem sobre o racismo desde cedo. Aprendem matemática com jogos africanos. O currículo não só valoriza a identidade, ele parte dela.

Por que cresce o interesse por escolas afrocentradas?

1. Resposta ao racismo institucional

Muitos pais negros se cansaram de ver seus filhos sofrendo racismo nas escolas tradicionais. As escolas afrocentradas surgem como espaços de acolhimento, proteção e empoderamento.

2. Valorização da ancestralidade

Cada vez mais famílias negras querem que seus filhos aprendam quem são e de onde vêm, e não apenas quem os colonizou. Escolas afrocentradas trabalham a autoestima e o pertencimento desde a infância.

3. Movimento decolonial na educação

Educadores, pesquisadores e militantes têm pressionado universidades, escolas e governos a repensar o modelo escolar tradicional. Nesse cenário, as escolas afrocentradas aparecem como resposta prática e possível.

Outros exemplos e iniciativas pelo Brasil

  • Escola Kilombo Tenondé Porã (SP): criada dentro de um território indígena-quilombola, com currículo afrocentrado.

  • Escola Odé Kayodê (RJ): propõe uma educação antirracista a partir das tradições de matriz africana.

  • Projetos comunitários afrocentrados em cidades como Recife, Belo Horizonte, Fortaleza e São Luís.

Esses espaços educam não apenas para o vestibular, mas para a vida, a resistência e a liberdade.

Conclusão

O aumento do interesse por escolas afrocentradas como a Maria Felipa mostra que a população negra não quer mais se adaptar a modelos escolares coloniais. Quer construir novos caminhos, com base em suas raízes, seus valores e seus saberes.

Essas escolas são muito mais do que espaços de ensino. São projetos políticos, espirituais e comunitários, onde cada criança negra é vista como protagonista, herdeira de uma história de luta e capaz de transformar o mundo.

Você conhece alguma escola afrocentrada ou gostaria de criar uma em sua comunidade?
Compartilhe aqui suas ideias e vamos fortalecer uma educação com raízes negras, centrada na liberdade e na ancestralidade!