Mulheres negras nas cédulas: reconhecimento e representatividade

A inclusão de mulheres negras nas cédulas é reparação histórica e valoriza trajetórias invisibilizadas. Saiba quem são essas figuras e sua importância.

CURIOSIDADES E PATRIMÔNIO CULTURAL

6/19/20254 min read

Mulheres negras nas cédulas: reconhecimento e representatividade

No Brasil, onde mais de 56% da população se autodeclara preta ou parda, o dinheiro talvez seja o objeto mais manuseado por todos, mas nunca estampou o rosto de uma mulher negra. Durante décadas, nossas notas exaltaram símbolos genéricos ou figuras masculinas brancas, como se a contribuição das mulheres negras para a história nacional não existisse ou não fosse digna de honra.

Mas elas sempre estiveram lá: lutando, ensinando, liderando, resistindo. De Tereza de Benguela, que comandou um quilombo no século XVIII, a Antonieta de Barros, primeira deputada negra do Brasil, as mulheres negras fizeram e fazem este país, embora seus nomes raramente sejam reconhecidos nas escolas, nos monumentos e, até hoje, nas cédulas.

O que diz o projeto?

O projeto de lei, aprovado pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados, prevê que personalidades femininas e negras passem a estampar novas emissões de cédulas e moedas brasileiras. A proposta altera a Lei nº 4.595/1964, determinando que o Banco Central priorize a representação de mulheres negras que contribuíram para a história e cultura do país.

A proposta é um substitutivo da deputada Benedita da Silva (PT-RJ), com base no PL 5434/16, de autoria do deputado Orlando Silva (PCdoB-SP). O texto ainda precisa passar por outras comissões e, posteriormente, pelo Plenário da Câmara e do Senado.

Por que isso importa?

1. Cédulas são instrumentos de memória coletiva

Elas circulam todos os dias, em todas as mãos. Ao trazer rostos reais para o dinheiro, o país faz uma afirmação: essas pessoas importam. Seus nomes e suas histórias ganham visibilidade e passam a fazer parte do imaginário nacional.

2. Reparação simbólica é política pública

O apagamento da população negra, especialmente das mulheres negras, dos símbolos nacionais é parte de uma estrutura racista que naturaliza a exclusão. Ao corrigir isso, o projeto contribui com uma ação educativa e representativa.

3. Impacto cultural e pedagógico

Ver uma mulher negra em uma cédula estimula a curiosidade, a pesquisa e o orgulho. É um recurso didático poderoso nas escolas, nas famílias e na mídia. Representatividade também educa.

Quem são algumas dessas mulheres que podem estampar as cédulas?

  • Tereza de Benguela: Líder do Quilombo do Quariterê, resistiu ao regime escravocrata no Mato Grosso;

  • Dandara dos Palmares: Guerreira e símbolo da resistência negra ao lado de Zumbi dos Palmares;

  • Antonieta de Barros: Primeira deputada negra do Brasil e educadora catarinense;

  • Mãe Menininha do Gantois: Referência na preservação das religiões de matriz africana;

  • Carolina Maria de Jesus: Escritora e cronista das favelas, autora de "Quarto de Despejo".

Essas são apenas algumas entre tantas que ajudaram a moldar o Brasil.

Representatividade não é detalhe, é estrutura

A presença de mulheres negras nas cédulas vai além da homenagem. É uma forma de questionar o que o país escolhe lembrar e o que escolhe esquecer.

Em comunidades como a de São Tomé, onde a história oral e a ancestralidade são pilares de identidade, ver mulheres negras estampando o dinheiro seria uma mensagem poderosa: nós estamos aqui, sempre estivemos e sempre estaremos.

Qual é o próximo passo?

O projeto segue para outras comissões da Câmara e, se aprovado, será enviado ao Senado. A sociedade civil pode acompanhar, pressionar parlamentares e mobilizar redes para que a proposta avance.

Conclusão

Estampar mulheres negras nas cédulas do real é um gesto de reparação simbólica com impacto profundo. É reconhecer que essas mulheres não só participaram da história, mas foram e são protagonistas.

Mais que uma nota de dinheiro, é uma nota de verdade. Uma nota que diz: o Brasil é negro, é feminino, e precisa se olhar no espelho da sua própria história.

Compartilhe este artigo com escolas, movimentos sociais e redes de educação. Que cada cédula represente não apenas valor econômico, mas também a riqueza cultural e política das mulheres negras do Brasil.