Mulheres negras nas cédulas: reconhecimento e representatividade
A inclusão de mulheres negras nas cédulas é reparação histórica e valoriza trajetórias invisibilizadas. Saiba quem são essas figuras e sua importância.
CURIOSIDADES E PATRIMÔNIO CULTURAL
Mulheres negras nas cédulas: reconhecimento e representatividade
No Brasil, onde mais de 56% da população se autodeclara preta ou parda, o dinheiro talvez seja o objeto mais manuseado por todos, mas nunca estampou o rosto de uma mulher negra. Durante décadas, nossas notas exaltaram símbolos genéricos ou figuras masculinas brancas, como se a contribuição das mulheres negras para a história nacional não existisse ou não fosse digna de honra.
Mas elas sempre estiveram lá: lutando, ensinando, liderando, resistindo. De Tereza de Benguela, que comandou um quilombo no século XVIII, a Antonieta de Barros, primeira deputada negra do Brasil, as mulheres negras fizeram e fazem este país, embora seus nomes raramente sejam reconhecidos nas escolas, nos monumentos e, até hoje, nas cédulas.
O que diz o projeto?
O projeto de lei, aprovado pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados, prevê que personalidades femininas e negras passem a estampar novas emissões de cédulas e moedas brasileiras. A proposta altera a Lei nº 4.595/1964, determinando que o Banco Central priorize a representação de mulheres negras que contribuíram para a história e cultura do país.
A proposta é um substitutivo da deputada Benedita da Silva (PT-RJ), com base no PL 5434/16, de autoria do deputado Orlando Silva (PCdoB-SP). O texto ainda precisa passar por outras comissões e, posteriormente, pelo Plenário da Câmara e do Senado.
Por que isso importa?
1. Cédulas são instrumentos de memória coletiva
Elas circulam todos os dias, em todas as mãos. Ao trazer rostos reais para o dinheiro, o país faz uma afirmação: essas pessoas importam. Seus nomes e suas histórias ganham visibilidade e passam a fazer parte do imaginário nacional.
2. Reparação simbólica é política pública
O apagamento da população negra, especialmente das mulheres negras, dos símbolos nacionais é parte de uma estrutura racista que naturaliza a exclusão. Ao corrigir isso, o projeto contribui com uma ação educativa e representativa.
3. Impacto cultural e pedagógico
Ver uma mulher negra em uma cédula estimula a curiosidade, a pesquisa e o orgulho. É um recurso didático poderoso nas escolas, nas famílias e na mídia. Representatividade também educa.
Quem são algumas dessas mulheres que podem estampar as cédulas?
Tereza de Benguela: Líder do Quilombo do Quariterê, resistiu ao regime escravocrata no Mato Grosso;
Dandara dos Palmares: Guerreira e símbolo da resistência negra ao lado de Zumbi dos Palmares;
Antonieta de Barros: Primeira deputada negra do Brasil e educadora catarinense;
Mãe Menininha do Gantois: Referência na preservação das religiões de matriz africana;
Carolina Maria de Jesus: Escritora e cronista das favelas, autora de "Quarto de Despejo".
Essas são apenas algumas entre tantas que ajudaram a moldar o Brasil.
Representatividade não é detalhe, é estrutura
A presença de mulheres negras nas cédulas vai além da homenagem. É uma forma de questionar o que o país escolhe lembrar e o que escolhe esquecer.
Em comunidades como a de São Tomé, onde a história oral e a ancestralidade são pilares de identidade, ver mulheres negras estampando o dinheiro seria uma mensagem poderosa: nós estamos aqui, sempre estivemos e sempre estaremos.
Qual é o próximo passo?
O projeto segue para outras comissões da Câmara e, se aprovado, será enviado ao Senado. A sociedade civil pode acompanhar, pressionar parlamentares e mobilizar redes para que a proposta avance.
Conclusão
Estampar mulheres negras nas cédulas do real é um gesto de reparação simbólica com impacto profundo. É reconhecer que essas mulheres não só participaram da história, mas foram e são protagonistas.
Mais que uma nota de dinheiro, é uma nota de verdade. Uma nota que diz: o Brasil é negro, é feminino, e precisa se olhar no espelho da sua própria história.
Compartilhe este artigo com escolas, movimentos sociais e redes de educação. Que cada cédula represente não apenas valor econômico, mas também a riqueza cultural e política das mulheres negras do Brasil.