O Ódio que Você Semeia: luta contra o racismo no Brasil
O filme “O Ódio que Você Semeia” revela o racismo estrutural e inspira reflexões sobre justiça racial e juventude negra no Brasil.
CURIOSIDADES E PATRIMÔNIO CULTURAL
O Ódio que Você Semeia: Uma Luta Contra o Racismo Que Ecoa no Brasil
O racismo não é apenas um ato individual de preconceito. Ele é um sistema que estrutura a sociedade, define acessos, nega direitos e tira vidas. O filme “O Ódio que Você Semeia” (The Hate U Give), lançado em 2018 e baseado no livro de Angie Thomas, é uma das obras mais potentes do cinema contemporâneo ao tratar dessa ferida aberta, não apenas nos Estados Unidos, mas também no Brasil.
Dirigido por George Tillman Jr., o filme acompanha a jovem Starr Carter, uma adolescente negra que transita entre dois mundos: o bairro pobre e majoritariamente negro onde mora, e a escola branca e elitista onde estuda. A tensão entre essas realidades explode quando Starr presencia o assassinato de seu melhor amigo, Khalil, por um policial branco durante uma abordagem injustificada.
A partir desse enredo, o filme levanta questões urgentes sobre violência policial, identidade racial, silenciamento, ativismo juvenil e o racismo estrutural. É uma obra que dialoga profundamente com a realidade de jovens negros no Brasil, onde tragédias como a de Khalil se repetem todos os dias.
O que “O Ódio que Você Semeia” nos ensina sobre racismo estrutural
O racismo que está na base da sociedade
O título do filme vem da sigla THUG LIFE, popularizada pelo rapper Tupac Shakur, que significa:
“The Hate U Give Little Infants Fucks Everybody”
Ou seja: o ódio que você transmite às crianças afeta o mundo todo.
Essa ideia central perpassa todo o filme: o ódio institucional, transmitido por leis injustas, educação excludente e violência policial, gera um ciclo de marginalização e morte que destrói comunidades inteiras. O racismo estrutural não é acidental. Ele é planejado, mantido e normalizado.
Silenciamento e auto-censura
Starr vive o dilema de ter que "se adaptar" para sobreviver. Na escola, ela evita gírias, controla sua raiva e tenta se encaixar no padrão branco. No bairro, ela é lembrada constantemente de que, mesmo sendo boa aluna, sua cor de pele ainda a faz ser vista com desconfiança.
Essa tensão revela como o racismo também opera no campo psicológico e simbólico, ensinando jovens negros a se calarem, a disfarçarem sua dor, a não denunciarem. A morte de Khalil muda isso. A partir dali, Starr começa a falar, a gritar, a resistir.
Paralelos com o Brasil: vidas negras importam?
Jovens negros mortos todos os dias
No Brasil, a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado, segundo o Mapa da Violência (Tvsenado). Casos como o de João Pedro, Agatha Félix, Marcos Vinícius e tantos outros ecoam a morte de Khalil no filme. Todos eles tinham em comum a juventude, a cor da pele e o fato de estarem no lugar "errado" segundo a lógica do racismo.
Assim como nos Estados Unidos, a polícia brasileira mata mais negros e periféricos. E, na maioria das vezes, esses crimes ficam impunes.
Quem pode falar?
Starr passa boa parte do filme dividida entre o medo e a vontade de falar. No Brasil, mães, familiares e ativistas enfrentam o mesmo dilema. Quem denuncia corre riscos. Quem se cala alimenta a injustiça.
Movimentos como #VidasNegrasImportam, Mães de Manguinhos, Reaja ou Será Morta/Reaja ou Será Morto têm se levantado para romper o silêncio e exigir justiça.
Educação antirracista e o papel do cinema
Por que mostrar filmes como esse nas escolas?
“O Ódio que Você Semeia” é um instrumento pedagógico poderoso. Ele ajuda jovens e educadores a refletirem sobre desigualdades que muitas vezes passam despercebidas. Assistir ao filme é um primeiro passo. Discuti-lo, é um ato político.
O cinema negro abre janelas para outras vivências e nos obriga a confrontar realidades invisibilizadas.
Indicação complementar: outros filmes essenciais
Para ampliar o debate sobre racismo estrutural, o filme pode ser exibido junto com outros títulos como:
Medida Provisória (Brasil)
13ª Emenda (EUA)
Cidade de Deus (Brasil)
Infiltrado na Klan (EUA)
AmarElo – É Tudo pra Ontem (Brasil)
Conclusão
“O Ódio que Você Semeia” é mais do que um filme. É um espelho. É um grito. É uma aula de empatia e urgência. Ele mostra que a luta contra o racismo não é apenas sobre justiça para uma única vítima. É sobre mudar estruturas, desafiar o silêncio e garantir que vidas negras não sejam descartáveis.
No Brasil, esse debate é fundamental. Porque Khalil poderia se chamar João, Vinícius ou Rafael. Porque Starr poderia ser qualquer jovem negro ou quilombola tentando sobreviver, estudar e sonhar num país que ainda insiste em negar o seu valor.
O cinema tem o poder de abrir olhos e corações. Que este filme seja um convite à escuta, à ação e à construção de uma sociedade onde vidas negras não sejam esquecidas, mas valorizadas. Compartilhe com quem precisa ver e refletir.