
Por que o Brasil ainda apaga suas raízes africanas?
Apesar da profunda influência africana na cultura brasileira, nossas raízes negras ainda são invisibilizadas pela educação, mídia e políticas públicas. Este artigo analisa os mecanismos de apagamento histórico e aponta caminhos para a valorização da herança africana como base da identidade nacional.
TERRITÓRIO E IDENTIDADE QUILOMBOLA
6/20/20253 min read
Por que o Brasil ainda apaga suas raízes africanas?
O Brasil é um dos países com maior população negra fora do continente africano. Mesmo assim, a herança africana segue sendo invisibilizada, marginalizada ou folclorizada nos espaços públicos, nas escolas, na mídia e até mesmo nas políticas culturais. A pergunta que precisa ser feita é direta: por que ainda apagamos nossas raízes africanas?
A contribuição africana na formação do Brasil
A influência africana está presente em todos os aspectos da cultura brasileira: da língua falada nas ruas à culinária popular, dos ritmos musicais às manifestações religiosas. Mais do que traços culturais, trata-se de uma matriz civilizatória que moldou o Brasil.
Religião, culinária, língua e resistência
As religiões de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda, são pilares de espiritualidade e resistência, mas ainda enfrentam intolerância.
Pratos como acarajé, vatapá, feijoada e o uso do dendê são heranças diretas da diáspora.
Palavras como "cafuné", "moleque", "axé" e "quitute" têm origem africana.
A resistência quilombola, os blocos afro e as rodas de capoeira mantêm viva a memória da luta e da liberdade.
Apesar disso, essas contribuições são frequentemente desvalorizadas ou tratadas como excentricidades e não como parte do centro da identidade nacional.
Os mecanismos de apagamento
Racismo institucional
O racismo no Brasil não se manifesta apenas por ofensas individuais. Ele está na forma como o sistema educacional ignora a história africana, como os museus negligenciam o legado negro e como a mídia invisibiliza intelectuais, artistas e lideranças negras.
Epistemicídio
O apagamento também ocorre quando se deslegitima o conhecimento produzido por pessoas negras. A ausência de autores africanos e afro-brasileiros nos currículos é um exemplo de como o saber negro é sistematicamente excluído.
Apropriação e folclorização
Expressões da cultura africana muitas vezes são apropriadas sem contexto ou respeito. Isso acontece com danças, turbantes, músicas e símbolos religiosos esvaziados de seu significado e comercializados de forma despolitizada.
O que falta na educação brasileira?
Apesar da existência da Lei 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas, sua implementação ainda é frágil. Faltam:
Formação de professores;
Materiais didáticos de qualidade e com representatividade;
Incentivo institucional para integrar o conteúdo ao cotidiano escolar.
Sem uma educação antirracista efetiva, o apagamento continua sendo reproduzido pelas próximas gerações.
Caminhos para revalorizar essa herança
Políticas públicas de memória
Projetos como museus quilombolas, leis de preservação do patrimônio imaterial e financiamento de iniciativas culturais negras são fundamentais para reparar e reconhecer a importância dessa herança.
Apoio à produção cultural afro-brasileira
Fortalecer artistas, escritores, pesquisadores e educadores negros é uma forma concreta de combater o apagamento. Incentivar editais, bolsas e espaços de circulação para essas produções é um passo essencial.
Mídia e representatividade
Veículos de comunicação precisam rever suas práticas e ampliar a presença de vozes negras em todos os campos: jornalismo, entretenimento, publicidade, literatura e opinião.
Mobilização comunitária
As próprias comunidades têm sido responsáveis por preservar a memória e os saberes ancestrais. Incentivar rodas de conversa, oficinas, arquivos orais e festas tradicionais é garantir que essa história continue sendo contada com orgulho.
Conclusão
O apagamento da herança africana no Brasil é fruto de um projeto histórico que tenta negar a centralidade da população negra na construção do país. Para romper com esse ciclo, é necessário assumir um compromisso coletivo com a valorização dessa herança, nos currículos, na mídia, nas políticas públicas e na vida cotidiana.
Reconhecer nossas raízes africanas não é apenas uma questão de identidade. É um passo necessário para construir um Brasil mais justo, plural e conectado com a verdade de sua própria história.
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