Reisado e resistência: a festa que protege a memória quilombola

Veja como o Reisado de São Tomé preserva a memória quilombola com dança, fé e ancestralidade, resistindo ao esquecimento e fortalecendo a cultura.

TRADIÇÕES E CULTURA VIVA

Camilo Martins

5/23/20254 min read

Reisado e resistência: a festa que protege a memória quilombola

“Se a memória vive, o povo não se cala. Se a dança segue, a cultura resiste.”

Na Comunidade Quilombola de São Tomé, interior da Bahia, há uma festa que não se resume à folia. Ela dança com os ancestrais, canta os ensinamentos dos mais velhos, e transforma cada passo em resistência. Estamos falando do Reisado de São Tomé, uma das manifestações culturais mais simbólicas da região, e uma das mais ameaçadas pelo esquecimento.

Este artigo é um convite para reconhecer o valor político, espiritual e afetivo do Reisado. Mais do que tradição, ele é memória viva, educação comunitária e forma de resistência negra.

O que o Reisado representa além da dança

O Reisado é uma festa popular de origem afro-ibérica, ligada ao ciclo natalino e às festas de Santos Reis. Nas comunidades quilombolas, no entanto, ele ganha camadas profundas de significado.

Em São Tomé, o Reisado não é só performance, é ato político, ritual e celebração comunitária. Ele une gerações, mantém vivos os conhecimentos dos ancestrais, e reforça o pertencimento à terra e à cultura negra rural.

Memória, fé e resistência negra

O Reisado carrega valores transmitidos oralmente por gerações, misturando o sagrado e o popular. Durante a festa, os brincantes entoam cantos que falam de fé, justiça, respeito aos mais velhos e à natureza.

Cada personagem tem um papel:

  • O mestre guia o grupo e protege a tradição

  • O embaixador é mensageiro entre o grupo e os santos

  • Os palhaços e brincantes representam o povo em festa, mas também têm função simbólica

A coreografia e o canto seguem rituais antigos, que são passados sem livro, sem cartilha, de corpo para corpo, de coração para coração.

Os desafios para manter a tradição viva

Apesar de sua força simbólica, o Reisado enfrenta riscos reais:

  • Falta de apoio público e recursos

  • Desinteresse das novas gerações, muitas vezes seduzidas por culturas externas

  • Enfraquecimento da transmissão oral, por perdas de mestres e líderes culturais

Além disso, a urbanização e a ausência de políticas públicas para valorização da cultura quilombola tornam a realização da festa um esforço coletivo e, muitas vezes, heróico.

O papel das novas gerações no Reisado

Há, porém, um novo sopro de esperança. Jovens da comunidade têm se engajado em registrar o Reisado por meio de:

  • Projetos culturais e oficinas

  • Documentários e vídeos

  • Escolas quilombolas com atividades sobre a festa

  • Redes sociais que ajudam a divulgar e valorizar a tradição

Essas ações mostram que o Reisado não é passado: é presente e futuro.

Conclusão

O Reisado de São Tomé é um livro vivo que se escreve com passos, cantos e cores. Ele nos ensina que resistir também é celebrar, e que a memória dos nossos ancestrais vive enquanto dançarmos com ela.

Preservar o Reisado não é apenas salvar uma festa. É defender uma identidade, uma história e um modo de existir que resiste há séculos, e que precisa continuar.

Você já participou do Reisado de São Tomé?

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