Reisado e Resistência: Como a Festa de São Tomé Protege a Memória Quilombola
“Se a memória vive, o povo não se cala. Se a dança segue, a cultura resiste.”
Na Comunidade Quilombola de São Tomé, interior da Bahia, há uma festa que não se resume à folia. Ela dança com os ancestrais, canta os ensinamentos dos mais velhos, e transforma cada passo em resistência. Estamos falando do Reisado de São Tomé, uma das manifestações culturais mais simbólicas da região, e uma das mais ameaçadas pelo esquecimento.
Este artigo é um convite para reconhecer o valor político, espiritual e afetivo do Reisado. Mais do que tradição, ele é memória viva, educação comunitária e forma de resistência negra.
O que o Reisado representa além da dança
O Reisado é uma festa popular de origem afro-ibérica, ligada ao ciclo natalino e às festas de Santos Reis. Nas comunidades quilombolas, no entanto, ele ganha camadas profundas de significado.
Em São Tomé, o Reisado não é só performance, é ato político, ritual e celebração comunitária. Ele une gerações, mantém vivos os conhecimentos dos ancestrais, e reforça o pertencimento à terra e à cultura negra rural.
Memória, fé e resistência negra
O Reisado carrega valores transmitidos oralmente por gerações, misturando o sagrado e o popular. Durante a festa, os brincantes entoam cantos que falam de fé, justiça, respeito aos mais velhos e à natureza.
Cada personagem tem um papel:
O mestre guia o grupo e protege a tradição
O embaixador é mensageiro entre o grupo e os santos
Os palhaços e brincantes representam o povo em festa, mas também têm função simbólica
A coreografia e o canto seguem rituais antigos, que são passados sem livro, sem cartilha, de corpo para corpo, de coração para coração.
Os desafios para manter a tradição viva
Apesar de sua força simbólica, o Reisado enfrenta riscos reais:
Falta de apoio público e recursos
Desinteresse das novas gerações, muitas vezes seduzidas por culturas externas
Enfraquecimento da transmissão oral, por perdas de mestres e líderes culturais
Além disso, a urbanização e a ausência de políticas públicas para valorização da cultura quilombola tornam a realização da festa um esforço coletivo e, muitas vezes, heróico.
O papel das novas gerações no Reisado
Há, porém, um novo sopro de esperança. Jovens da comunidade têm se engajado em registrar o Reisado por meio de:
Projetos culturais e oficinas
Documentários e vídeos
Escolas quilombolas com atividades sobre a festa
Redes sociais que ajudam a divulgar e valorizar a tradição
Essas ações mostram que o Reisado não é passado: é presente e futuro.
Conclusão
O Reisado de São Tomé é um livro vivo que se escreve com passos, cantos e cores. Ele nos ensina que resistir também é celebrar, e que a memória dos nossos ancestrais vive enquanto dançarmos com ela.
Preservar o Reisado não é apenas salvar uma festa. É defender uma identidade, uma história e um modo de existir que resiste há séculos, e que precisa continuar.
Você já participou do Reisado de São Tomé?
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