
Silenciar a Ancestralidade Também É Violência: Racismo Religioso Dentro das Comunidades Negras
Racismo religioso também fere dentro das comunidades negras. Entenda por que silenciar a ancestralidade é negar a própria história espiritual quilombola.
FÉ, RITOS E ESPIRITUALIDADE
5/23/20253 min read
Silenciar a Ancestralidade Também É Violência: Racismo Religioso Dentro das Comunidades Negras
“Quando nos obrigam a esconder nossos orixás, nossos guias, nossas rezas, não estão só negando a fé. Estão negando quem somos.”
As religiões de matriz africana sempre caminharam com o povo negro. Foram elas que acolheram, curaram e protegeram nossos antepassados em meio à escravidão, à perseguição e ao abandono do Estado.
Mas, mesmo dentro de comunidades negras e quilombolas, ainda há quem olhe com medo, julgamento ou desprezo para um atabaque, uma guia no pescoço ou um canto de Candomblé.
Esse olhar é mais do que preconceito: é racismo religioso. E sim, ele também mora dentro das nossas comunidades.
Quando a fé vira motivo de vergonha ou silêncio
Há quem tenha crescido em roda de tambor e hoje sente vergonha de dizer que já foi benzido.
Há quem foi batizado na cachoeira e hoje tem medo de revelar isso para a igreja que frequenta.
O medo de julgamento faz muitos se esconderem espiritualmente, apagando suas raízes para se encaixar.
Em São Tomé e em tantas outras comunidades, é comum ver:
O silêncio sobre o Candomblé na frente de religiosos cristãos
O afastamento de crianças de terreiros por pressão de igrejas
A negação das práticas espirituais dos avós
Esse silenciamento não é neutro. É um reflexo da colonização espiritual que ainda vive entre nós.
As raízes espirituais que muitos renegam por medo ou pressão
Durante séculos, os colonizadores tentaram apagar a religiosidade africana com violência e vergonha. Chamaram os orixás de demônios. Proibiram os tambores. Ridicularizaram as benzedeiras.
O resultado ainda ecoa: muitos dos nossos internalizaram essa rejeição.
Mas negar a própria ancestralidade é negar parte essencial da identidade quilombola. As religiões afro-brasileiras não são “do mal”, são sabedorias profundas que:
Respeitam a natureza
Honram os ancestrais
Curam com ervas, cantos e gestos
Ensinam o equilíbrio entre corpo, espírito e comunidade
Como combater o racismo religioso com diálogo e acolhimento
Não se combate preconceito com mais divisão.
É com diálogo, escuta e educação que se constrói respeito entre as diversas formas de crer (ou não crer).
Algumas ações simples que podem ser realizadas na própria comunidade:
Rodas de conversa entre diferentes tradições religiosas
Resgate das histórias espirituais das avós, curadores e mestres
Projetos escolares que falem sobre religiosidade afro-brasileira
Registros audiovisuais sobre fé e identidade quilombola
O papel da educação e do afeto na reconstrução do respeito
Educar para a liberdade de fé é também educar para o autoconhecimento e o orgulho da própria história.
Não se trata de impor nenhuma crença, mas de criar espaço para que todas possam existir com dignidade.
“A nossa fé foi perseguida. Hoje, ela precisa ser protegida, inclusive por nós mesmos.”
Conclusão
Silenciar a ancestralidade é uma forma de violência.
É negar a espiritualidade que sustentou nossos ancestrais quando tudo parecia ruir.
É apagar os tambores, os rezos, os banhos de folha, os nomes sagrados que nos ensinaram a viver.
Resgatar e respeitar essa espiritualidade é ato de cura, de coragem e de reconexão com quem somos.
Que as comunidades quilombolas sejam também espaços de liberdade espiritual.
Porque todo quilombo é, antes de tudo, um território de alma.
Você já viveu ou presenciou situações de racismo religioso?
Compartilhe sua história com a gente. Sua voz pode ajudar a quebrar o silêncio e fortalecer o respeito.
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