
Maria da Paz: Memória, Beleza e Resistência na Comunidade Quilombola de São Tomé
Maria da Paz é símbolo de beleza, fé e resistência em São Tomé. Conheça sua história como cabeleireira, guardiã da cultura e liderança quilombola.
PERSONAGENS E HISTÓRIAS DE VIDA
6/16/20254 min read
Maria da Paz: Memória, Beleza e Resistência na Comunidade Quilombola de São Tomé
Maria da Paz é mais do que cabeleireira em São Tomé: é guardiã de tradições, fé e identidade quilombola. Conheça sua história, seu ofício ancestral e sua luta por valorização da cultura negra.
1. A força de uma mulher quilombola
Na Comunidade Quilombola de São Tomé, interior da Bahia, vivem histórias que não se encontram nos livros, mas sim nos gestos, nas canções, nas rezas e nos fios de cabelo cuidadosamente trançados ou alisados com o calor da brasa. Uma dessas histórias é a de Maria da Paz, mulher que representa, com orgulho, a beleza e a luta de seu povo.
Mais do que cabeleireira, Maria da Paz é liderança comunitária, guardadora de memórias e símbolo da resistência feminina negra em um Brasil que muitas vezes ainda insiste em silenciar vozes como a sua.
2. O pente quente e a beleza das raízes
A arte de cuidar dos cabelos na comunidade vai muito além da estética: é um ato de afeto, identidade e ancestralidade. Maria da Paz domina esse saber como poucas. Desde jovem, aprendeu a usar o pente quente, uma técnica tradicional onde o ferro é aquecido na brasa para alisar os fios — um costume que resiste ao tempo e carrega memórias de gerações.
Além disso, ela ainda utiliza enroladores para modelar cachos, resgatando práticas antigas de cuidado com os cabelos que respeitam a diversidade dos fios negros. Seu ofício, passado de mão em mão, valoriza o que durante tanto tempo foi alvo de preconceito: o cabelo crespo, a textura africana, a estética quilombola.
3. Fé e musicalidade: entre o tambor e o violão
Maria da Paz também encontra na fé uma forma de resistência e expressão. Participa do grupo de oração da igreja católica da comunidade, onde toca tambor com devoção e entusiasmo. O som ecoa não apenas como oração, mas como herança cultural.
Ela revela ainda o desejo de aprender violão, mostrando sua vontade de continuar se expressando musicalmente e expandindo sua vivência espiritual e artística. Fé, ritmo e identidade caminham juntas em seu percurso.
4. As origens de São Tomé: o amor entre Santa e Tomé
Maria é também guardiã da memória oral da comunidade. Ao narrar as origens de São Tomé, ela compartilha um enredo marcado pelo afeto e pela luta:
“Santa era uma mulher forte, que posteriomente ela popularizou a Comunidade de Lages dos Negros. Tomé, um homem que fugiu de Jacobina, conheceu Santa e com ela construiu uma família. Juntos, fundaram a comunidade de São Tomé no municipio de Campo Formoso - BA.”
Essa narrativa mostra como o quilombo nasceu do encontro, do amor e da fuga da opressão, uma memória que vive nas palavras de Maria e que reafirma a autonomia e ancestralidade do povo quilombola.
5. Identidade negra e resistência
Criada por Miliana Afra de Jesus, Maria da Paz cresceu aprendendo a valorizar sua negritude e sua identidade quilombola. Ela compreende que o reconhecimento legal da Comunidade foi fruto da organização da associação local, e que esse processo foi fundamental para que o povo da Comunidade de São Tomé da cidade de Campo Formoso - BA pudesse se afirmar perante o Estado.
Mesmo assim, ela denuncia: muitas pessoas ainda não se aceitam negras, por influência de ideias racistas reproduzidas desde cedo. A escola, segundo ela, também tem um papel a cumprir, precisa ensinar sobre o que é ser quilombola, valorizar os nomes, as histórias e a cultura local.
6. As dores da exploração e os caminhos da superação
Maria relembra que, durante muito tempo, os moradores da comunidade foram tratados como mão de obra barata por pessoas de fora. Sem acesso a direitos e dignidade, trabalhavam muito e recebiam pouco.
Foi apenas com a chegada de políticas públicas, como programas sociais do governo, que muitas famílias conseguiram melhorar de vida. Ainda há muito a fazer, mas a organização comunitária e o sentimento de pertencimento fizeram e continuam fazendo a diferença.
7. Festa, saudade e memória viva
Apaixonada pelas tradições locais, Maria da Paz é presença constante nas festas religiosas e culturais. Ela tem uma memória vívida da roda de jiboia, uma manifestação cultural que desapareceu com o tempo, mas que permanece viva em sua lembrança e em sua saudade.
A festa do Reisado, em especial, é uma de suas grandes paixões. Para Maria, essas celebrações não são apenas folclore, mas rituais de identidade e pertencimento.
8. Aprendizados da maturidade
Hoje, já na fase adulta da vida, Maria voltou a estudar. E leva para a sala de aula toda a sabedoria adquirida ao longo dos anos. Ela defende uma educação que fale da comunidade, que fortaleça o orgulho quilombola e que prepare os mais jovens para não esquecerem suas raízes.
Faz parte do grupo da terceira idade, onde participa com alegria e engajamento:
Toca pandeiro
Faz crochê
Comparece aos encontros semanais todas as quartas às 14h
Para ela, a idade não é freio — é combustível para seguir aprendendo, lutando e ensinando.
Conclusão: Maria da Paz é uma joia de São Tomé - BA
Com suas mãos, Maria da Paz embelezou gerações. Com suas palavras, guardou histórias. Com sua fé, fez resistência cultural. Ela representa o que há de mais potente no corpo, na fala e no gesto da mulher quilombola: a sabedoria que se transmite pelo fazer, a luta que se mantém pelo cuidado, a memória que não se apaga.
Maria é uma joia da Comunidade de São Tomé - BA, daquelas que não se compram, mas que se revelam a cada gesto de amor à comunidade.
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