
Passo a Passo, Gesto a Gesto: A Tradição Quilombola que Não se Escreve, se Vive
Em São Tomé, o saber ancestral não se escreve — se vive. Descubra como tradições quilombolas são passadas de geração em geração, no fazer e no conviver.
SABERES ANCESTRAIS E MEMÓRIA ORAL
5/24/20253 min read
Passo a Passo, Gesto a Gesto: A Tradição Quilombola que Não se Escreve, se Vive
“Tem coisa que a gente não aprende com a caneta, aprende com o olho, com a escuta e com o coração.”
Na Comunidade Quilombola de São Tomé, muito do que se sabe não está em papel, nem em livro. Está no fazer.
Está no jeito de plantar, de benzer, de cozinhar, de costurar, de entoar uma chula ou preparar um tambor.
Está nos gestos que se repetem, nas palavras que se escutam, nos olhares que orientam, e nos silêncios que também ensinam.
Esse saber vive na convivência. E cada geração tem o dever de passar adiante o que recebeu.
O valor do fazer junto
Na cultura quilombola, aprender não é separar criança de adulto, colocar em fila e dar dever de casa.
Aprender é estar junto. Observar. Perguntar. Imitar. Errar e refazer.
O “ensinar” acontece:
Num mutirão de colheita
Na cozinha de barro ao redor do fogão
Na beira do rio, aprendendo a lavar a roupa “do jeito certo”
Na roda de samba de roda ou no ensaio do reisado
Cada gesto tem uma história por trás.
E quem aprende fazendo, não esquece, incorpora.
Aprender na prática: culinária, cura, música e fé
Os saberes mais preciosos da comunidade de São Tomé são ensinados com o corpo e com o tempo. Exemplos:
A preparação do beiju ou do mungunzá, que só se acerta sentindo o ponto com os dedos
A reza para tirar quebranto, que não está escrita, mas é dita do jeito certo, com o ramo certo
O ritmo do pandeiro no reisado, que o menino aprende ouvindo, até que um dia a mão bate sozinha
A colheita da folha medicinal no horário certo, com cuidado e respeito à natureza
“Saber ancestral é assim: se passa no olhar e se confirma na prática.”
A presença dos avós, tias e mestres da comunidade
Esses saberes só se mantêm porque existe quem cuide, preserve e repasse.
Na comunidade, os mestres do saber nem sempre usam esse nome. Mas são reconhecidos por todos:
A senhora que benze com fé
O homem que conhece as plantas e os sinais do tempo
A mulher que ensina a costurar roupa de reisado
O tio que organiza a roda de canto ou de capoeira
Eles são bibliotecas vivas.
E cada vez que escutamos, repetimos ou respeitamos o que nos ensinam, estamos mantendo o livro aberto.
Por que esse saber precisa ser protegido e valorizado
Hoje, muitos desses saberes estão em risco de desaparecer, porque:
As novas gerações têm menos tempo para a escuta
A escola formal nem sempre valoriza esse conhecimento
Os mestres estão envelhecendo, e muitos se vão sem deixar registro
Por isso, é urgente:
Valorizar quem ensina de forma tradicional
Registrar em vídeo, áudio, texto, o que puder ser guardado
Criar espaços onde o saber ancestral tenha a mesma importância que qualquer diploma
“A tradição não é coisa do passado. É semente do futuro.”
Você aprendeu algo importante com alguém da sua comunidade?
Conte pra gente. Seu saber é parte da nossa memória. Vamos escrever juntos esse livro vivo chamado São Tomé.
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